terça-feira, 19 de maio de 2015

A graça e o dinheiro - O que aprendi na minha viagem à África.






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Olá amigos leitores do Graça e Salvação. Recebemos esse interessante artigo do nosso amigo e parceiro Gabriel Gonzalez relatando sua experiência em Uganda neste mês de maio. Espero que aproveitem. Gostei muito do texto:




Recentemente estive na África. Entrei em contato com pessoas de Uganda, Quênia, Congo, Sudão e Ruanda. Fui com a intenção de ensinar, voltei com a certeza de ter aprendido. Fiquei impressionado com a resposta deles à mensagem da graça de Deus. Eles aceitam a graça como algo totalmente natural, não questionam, não é preciso muita explicação. Porque? Me questionei isso no início, mas a resposta estava bem na minha frente. 

Existe uma relação muito grande entre cultura social e econômica e aceitação da graça de Deus. Mas isso não deveria ser novidade para mim nem para você. Jesus já ensinou isso a mais de dois mil anos atrás. Certa vez se aproximou de Jesus um jovem muito rico e de grande posição na sociedade. Jesus sabia exatamente como trabalhar com ele. Por isso foi direto ao ponto e propôs: “vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me”. Marcos 10:21. Sabemos o desfecho da história. O jovem se retirou triste e contrariado. Então Jesus mencionou as palavras tão memoráveis: “Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! ” Marcos 10:23
O problema não é o dinheiro em si, mas a sensação que este provoca: PODER, SEGURANÇA, INDEPENDÊNCIA, sentimentos que obstruem o trabalho de Deus no coração. Apenas quem não tem nada e sente uma profunda dependência é quem apreciará a graça de Deus. 


Em outra ocasião Jesus mencionou: 

"Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus. Bem-aventurados vocês, que agora têm fome, pois serão satisfeitos. 

Bem-aventurados vocês, que agora choram, pois haverão de rir. 

Bem-aventurados serão vocês, quando os odiarem, expulsarem e insultarem, e eliminarem o nome de vocês, como sendo mau, por causa do Filho do homem. 

"Regozijem-se nesse dia e saltem de alegria, porque grande é a recompensa de vocês no céu...” Lucas 6:20-23 

Segundo os parâmetros atuais da sociedade, esse foi um discurso derrotista. Saltar de alegria quando estamos pobres, famintos, chorando e perseguidos? A palavra bem-aventurado vem do grego e seu significado original seria uma expressão tal como: Ah, seu felizardo! 

J. B. Philips traduziu as bem-aventuranças que poderiam se aplicar na realidade atual do mundo: 

Felizes os intrometidos: pois subirão a postos elevados no mundo. 

Felizes os que tem pavio curto: pois nunca permitirão que a vida os machuque. 

Felizes os que se queixam: pois conseguem fazer o que querem no final. 

Felizes os escravizadores: pois obterão resultados. 

Felizes os homens notáveis deste mundo: pois se aproveitam das circunstâncias. 

Felizes os perturbadores: pois são notados pelos outros. 

A sociedade vive por regras de sobrevivência do mais capacitado, do mais forte. “Aquele que morre com mais brinquedos é o vencedor”. 

Jerry Reinsdorf, proprietário do Chicago Bulls explicou um resumo das regras que dominam o mundo por ocasião da aposentadoria de Michel Jordan: “Ele está vivendo o sonho americano. O sonho americano é atingir um momento na vida em que não é preciso fazer nada que você não queira e em que você pode fazer tudo o que quer. ” 

Esse pode ser o sonho americano, mas está longe de ser o sonho de Deus. A força, a destreza, a boa aparência, boas relações e um espírito competitivo podem trazer sucesso para uma pessoa na atual sociedade, mas são exatamente essas as qualidades que bloqueiam o atuar de Deus no coração. A dependência, a tristeza, o reconhecimento da própria incapacidade, essa é a condição para entrar no reino de Deus. 

Para Philip Yancey as bem-aventuranças se resumem em uma frase: "Bem-aventurados os desesperados!". “Não tendo a quem buscar, os desesperados se voltam para Jesus. Jesus acreditava que uma pessoa chorosa, perseguida, faminta e sedenta tem uma ‘vantagem’ especial sobre o restante de nós. Talvez a pessoa necessitada clame a Deus pedindo por ajuda. ” 

A escritora Monica Hellwig expressa esse pensamento de forma maravilhosa nesta lista das ‘vantagens’ de ser pobre: 

1- Os pobres sabem que tem premente necessidade de redenção. 

2- Os pobres reconhecem não apenas sua dependência de Deus e de gente poderosa como também sua interdependência uns dos outros. 

3- Os pobres depositam sua segurança nas coisas, não nas pessoas. 

4- Os pobres não têm um senso exagerado da sua própria importância. 

5- Os pobres esperam pouco da competição e muito da cooperação. 

6- Os pobres conseguem distinguir entre necessidade e luxo. 

7- Os pobres podem esperar, porque adquiriram uma espécie de paciência obstinada nascida de uma dependência reconhecida. 

8- Os temores dos pobres são mais realistas e menos exagerados, porque já sabem que a pessoa pode sobreviver a grandes sofrimentos e necessidades. 

9- Quando os pobres ouvem a pregação do evangelho, ele soa como boas novas e não como uma ameaça ou repreensão. 

10- Os pobres podem reagir ao apelo do evangelho com certo abandono e com uma inteireza descomplicada porque têm tão pouco a perder e estão prontos para tudo. 

É por isso que na África, a mensagem da graça de Deus é aceita com tanta naturalidade e intensidade. É por isso que aprendi muito com eles. Aprendi a descomplicar a vida e confiar mais nas promessas de Deus, a ser mais dependente da força que vem de Deus. 

Voltando da África fiz escala em Londres e tive algumas horas para poder conhecer a cidade. Ali me encontrei com meu amigo Jorge Banfi que é o pastor responsável pela Inglaterra. Ele mencionou a dificuldade que os ingleses têm para aceitar a mensagem do evangelho, sendo que em nossa denominação lá (em Londres) temos vários fieis, mas apenas poucos ingleses. 

Que contraste! África e Europa: em todo sentido muito diferentes, mas especialmente na resposta que as pessoas dão à mensagem do evangelho. 

Já faz muito tempo que o Brasil é um pais em franco crescimento. As regras da sociedade moderna e rica já se instauraram por aqui. É só dar uma olhada nos carros dos irmãos estacionados na porta da igreja. Temos que admitir que em 20 anos as coisas mudaram muito. E também mudou a resposta ao chamado do evangelho. 

Não é minha intenção influenciar todos a serem pobres, miseráveis. Não é minha intenção bloquear o crescimento econômico. Minha intenção é alertar: que a riqueza não venha acompanhada de sentimentos de segurança, poder e independência. Que o sentimento de desespero e completa dependência de Deus seja a marca da experiência de vida para que, assim como acontece com o povo africano, a aceitação da graça maravilhosa de Deus seja natural, espontânea. 

São os desejos de um feliz desesperado: 
Gabriel Gonzalez

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