segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Parábola do Pai Pródigo



Por: João M., Brasília





Leia este artigo como se fosse o personagem principal da parábola (Lucas 15:11-32). Perambule com o pródigo, festeje com o Pai e resmungue com o mais velho, mas não ceda a tentação de ler as conclusões sem antes meditar nas entrelinhas da discussão. Reconheço que você ouve um sermão baseado neste texto freqüentemente. Os últimos que anotei na Igreja X  estão listados abaixo:

·      Pastor A (31/07/1997) = “Deus não pode amarrar os jovens nos pés dos bancos da igreja e até permite que saiamos da zona de influência do pai”.
·      Pastor B (07/07/1999) = “O irmão mais velho é o crente obediente, mas infeliz porque imagina não estar recebendo as bênçãos do pai”.
·      Pastor C (02/01/2000) = “Os irmãos mais velhos somos nós que estamos na igreja e não estendemos as mãos para receber os mais novos”.

Recordemos, irmãos, que o Espírito Santo, fonte de todo pensamento original acerca do texto bíblico, não cobra os direitos autorais daqueles que buscam sua iluminação. Ore, examine a parábola e tente entender a estória antes de responder as seguintes indagações:

Como Deus trata a pecadores intencionais (o filho pródigo) e ignorantes (o filho mais velho)?
Como tratamos a pecadores habituais que planejam e transgridem as leis sem medir as conseqüências?
Como tratamos os fariseus da nossa igreja? Você é um fariseu?
Você tem um filho pródigo? Você o trata como o Pai ou como o irmão mais velho da parábola?

Qualquer um percebe nossa prontidão em clamar por justiça quando o delinqüente é o filho dos outros. Temos a fórmula exata para dar um jeito no adolescente mal educado. Nossa língua está sempre afiada com uma palavra de condenação aos criminosos (II Samuel 12:5 e 6). Reivindicamos nossos direitos em passeatas onde pedimos uma justa punição aos infratores e, se preciso for, recorremos até a última instância jurídica em busca de uma pena mais adequada.

Do outro lado, os pais costumam ser indulgentes no processo educacional dos filhos. Continuamente dão uma pena menor do que a esperada pelos vizinhos ou por “pedagogos de plantão” que não toleram uma criança normal ou choramingas dentro da igreja.

Além da justiça e da indulgência, conhecemos a graça (perdão) e o amor incondicional demonstrados por uma mãe que, a despeito de não sancionar ou custear as atitudes marginais de um filho, enfrenta filas e vistorias humilhantes em cada fim de semana para se doar a um preso na Papuda.
Antes, porém, de julgarmos o filho mais moço, conheçamos alguns delitos praticados. Selecionei três crimes dolosos; um deles, com requinte de crueldade:

1.     O grito de independência: “Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens...” (Lucas 15:12). Independência ou morte! Já não mais agüentava as restrições impostas pelo regimento interno do lar, da sinagoga e da aldeia. Ou seja, “meus pés são meus, eu vou aonde quiser com eles. Minhas mãos são minhas, eu faço o que quiser com elas. Meus olhos, meus ouvidos, minha vida toda, são meus e ninguém tem o direito de interferir neles; eu faço o que me der vontade; assisto ao que eu quiser; ouço o que achar que é bom para mim; e ninguém tem nada a ver com isso”1. Usando as palavras de Jack Winter: “Pai, não posso esperar o senhor morrer. Dá-me o que por direito me pertence, para eu ir embora e cuidar da minha vida”2.

2.     A temporada de caça à felicidade: “... lá dissipou todos os bens, vivendo dissolutamente” (Lucas 15:13). O termo pródigo significa esbanjador. E aqui nos deparamos com alguém que para atingir o êxtase não perdia uma boa farra; conhecia todos os botecos, boates e motéis da cidade. Os prazeres foram transitórios, mas suficientes para fazê-lo gastar até o último centavo num momento de escassez e de fome. Julgava-se muito esperto ao dar costas às tradições religiosas e familiares até que se descobriu sem dinheiro, sem amigos e sem vergonha. Longe da casa do pai, começou a padecer necessidades.

3.     A decisão de continuar longe da casa do pai: “Então ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra...” (Lucas 15:15). No lugar do pródigo, você admitiria publicamente que errou ao rebelar-se contra as ordens do pai? Por que o rapaz não arrumou as trouxas e retornou imediatamente à casa paterna? Porque era humano como nós: nossa rebelião é sempre pública, mas os infortúnios que colhemos nos envergonham e tentamos ocultá-los de outros. O que ele fez? Saiu a procura de uma solução criativa; isto é, qualquer emprego que o mantivesse longe da casa paterna. Ofereceram-lhe um bico por imaginar que um judeu recusaria a imunda profissão de zelador de porcos. Noutras palavras, usariam a recusa do trabalho como uma desculpa gentil para despedir o desempregado. Mas ele aceitou a oferta imaginando solucionar seus problemas sem encarar o pai, o mano e os vizinhos. Dali a pouco, porém, descobriu aquilo que não queria admitir:

·      Continuava com fome (Lucas 15:16 e 17).
·      O fazendeiro só valorizava os leitões, ao passo que desprezava aquele necessitado.
·      Seus esforços só pioraram o cheiro da lama: do fundo do poço para o fundo do chiqueiro.
·      Ele descobriu que estava precisando de um pai.

A partir deste momento, você é o juiz. Que pena aplicaria a um filho como esse? Compare  sua sentença com as possibilidades descritas a seguir. Em casos semelhantes, a rígida lei judaica (justiça)estabelecia como punição aos réus a maldição divina (Deuteronômio 27:16) e a pena de morte por apedrejamento (Deuteronômio 21:18-21). Certamente, os moralistas modernos estariam entre os atiradores de pedra. Os daquela época ficaram reunidos à espera da cerimônia de apedrejamento do filho desobediente, mas tal solenidade não aconteceu. O pai não o deserdou e nem cortou sua mesada, procedimentos que poderiam ser adotadas qualquer indulgente dos nossos dias (indulgência).

Os legalistas chateados com o pai olham para o pródigo no chiqueiro e dizem asneiras - “Arre! Bem feito!” - porque ainda não entenderam a grandeza da graça e do amor imensurável do pai. O próprio esbanjador quando melhorou do estado de loucura temporário “pensou consigo mesmo: ‘Isso é justiça. Estou morrendo num cercado cheio de porcos, mas é o que mereço. Desperdicei a herança do velho – dinheiro que ele ganhou depois de décadas de trabalho árduo e vida direita. Infringi tudo o que me ensinaram e até inventei novas maneiras de me meter em apuros. Sacudi o dedo contra Deus e seus caminhos, e agora destrui a vida e estou rastejando com os porcos. Se eu morrer assim, não é injusto. Recebi justiça’”3. No auge da crise, lembrou-se de cenas passadas onde o pai reabilitara servos ingratos. Reviveu sua fuga da aldeia e como escapou das pedras, escoltado pelo amor do pai. Começou a brotar ali um novo conceito acerca do pai. Ainda conseguiu bolar um plano de retorno ao lar onde confessava a sua culpa (pequei), reconhecia a sua indignidade (já não sou digno de ser chamado seu filho) e fazia uma proposta indulgente de reconciliação(faze-me como um dos teus empregados assalariados). Dizem-nos as Escrituras: “E, levantando-se, foi para o seu pai...” (Lucas 15:20).

O PAI AMOROSO E O FILHO PRÓDIGO.

Pais indulgentes não barganhariam o retorno com aquele garoto sem antes pregar um duro sermão: “Aonde você andou, moleque? Espero que tenha aprendido a lição”. Outros mais rigorosos diriam: “Como não queremos incentivar seu comportamento irresponsável e, também, não queremos correr o risco de reviver esse pesadelo, você ficará em banho-maria durante algum tempo: durma no galpão com os empregados e quando provar que virou gente será readmitido na família”.
O pai que conhecemos na parábola difere radicalmente em sua maneira de restaurar a amizade com o filho. Floyd Mclung, Jr. menciona três momentos em que o pai injetou graça e amor incondicionais na vida desregrada do pródigo4:

4    O pai amava o filho o suficiente para permitir-lhe que saísse de casa. O pai amoroso não o deserdou e nem retirou a sua mesada. Poderia até condená-lo à morte, porém, infundiu perdão e amor incondicional concedendo ao rebelde o direito à vida. Ele amava tanto que não impediu a saída do filho com tudo o que não tinha direito.
4    O pai amava o filho tão profundamente que esperava todos os dias que ele voltasse para casa. Queria ser o primeiro a lhe dar as boas vindas, queria tratá-lo como um herói e, desta forma, remover os possíveis obstáculos neste retorno à casa do pai. Georges Chevrot auxilia-nos na compreensão deste ponto-de-vista: “Que teria acontecido se naquela tarde, cansado de esperar, o pai não tivesse subido ao terraço? Ou se o filho pródigo, à entrada da casa, não tivesse encontrado senão um servo que o enxotasse brutalmente, tomando-o por um vagabundo? Ou – nem é bom pensar nisso – se tivesse topado com irmão mais velho”5? Nada disso aconteceu. O pai saudoso aguardava continuamente o retorno do filho.
4    O pai amava tanto o seu filho, que quando este regressou ao lar ele não condenou pelos seus erros, mas perdoou-lhe, e celebrou a volta com um grande banquete. Bailey acentua que “o que o pai faz nesta cena deve ser entendido como uma série de atos dramáticos calculados para proteger o rapaz da hostilidade da aldeia, e restaurá-lo à comunhão da comunidade”6. Quais foram estas encenações?
.    A corrida da compaixão: O pai não conseguiu esperar a chegada daquele morto de fome. Esqueceu a sua idade, menosprezou os costumes dos nobres orientais e saiu correndo para reconquistá-lo publicamente.
.    Os abraços e os beijos da reconciliação: A platéia ficou boquiaberta: o menino ainda cheirava a porcos, e o pai o beijou repetidamente no rosto em um gesto público de reconciliação e perdão (Gênesis 33:4). Se não o beijasse no rosto certamente o filho beijaria suas mãos e seus pés. Ali o pródigo continuou a mudar de idéia acerca do pai.
.    O banquete de recepção: “O pecador sempre fica surpreso quando o castigo é suspenso”7. Preparado psicologicamente até para ser enxotado da aldeia e do lar, o pródigo foi surpreendido com um tratamento de herói: “ele ainda me trata como filho”; contudo, a melhor roupa, o melhor sapato, o anel de filiação, o novilho cevado e o banquete foram apenas amostras da alegria que inundou o coração pai amoroso pela mudança de opinião do filho rebelde.

Diferente do pródigo, o primogênito era um rapaz virtuoso, cheio de predicados e, até certo ponto, digno de imitação. Extraímos do texto bíblico três qualidades que sobressaem em sua vida:

F    Em nenhum momento, abandonou a casa do pai.
F    Ele não exterminou o resto das riquezas da família após a saída do irmão.
F    Manteve-se obediente aos mandamentos do pai (Lucas 15:29), tendo preservado uma fachada de  pureza sexual  (Lucas 15:30).
Quase posso ver os moralistas modernos empenhados numa campanha pela sua canonização. Calma lá! Não fique à distância contemplando uma figueira com abundante folhagem. Aproxime-se, inspecione-a de perto para ver se está produzindo frutos ou não (Mateus 21:18-19). Nessa parábola, o filho exemplar foi reprovado em sua inspeção. Descobriu-se que detrás daquele obediente escondia-se um outro filho carente da graça e do amor incondicional do pai; defeitos esses que só foram revelados com o retorno do irmão:
1)     Por que o pai não mandou avisá-lo da chegada do irmão? Porque sabia que o filho moralista era incapaz de amar (I João 2:9-11; 4:20) e perdoar a ovelha negra da família.
2)     Que atitude tomou quando soube o real motivo da festa? Primeiro, “ele indignou-se e não queria entrar” (Lucas 15:28). Em seguida, encontramo-lo apedrejando o irmão com as palavras de Lucas 15:30: “Este garoto de programas é teu filho, mas não é meu irmão”. Admiro a sinceridade do primogênito: nós também “nem gostaríamos que alguém nos visse na companhia de um indivíduo desses, quanto mais comemorando sua volta”8. O que ele merecia era a morte e não uma festa. Coitado do pai! Agora chegou a vez do filho mais velho rebelar-se. O desabafo diante da platéia (Lucas 15:29) questiona seu método reeducativo e contém a três conceitos errados que acompanham a versão particular da verdade legalista:

v   “Há tantos anos que te sirvo...” = eu sou teu jornaleiro. “É uma resposta que esconde mal toda uma série de mágoas inconfessáveis. Ah! Se me fosse possível voltar atrás, não seria tão ingênuo... Aproveitaria ao máximo, como o mais novo... Nunca reclamei do meu trabalho, estava fora todo o tempo, trabalhei em dobro depois da partida do extraviado, para que a produção agrícola não sofresse com a sua ausência, e tu não tiveste a menor atenção comigo... Ah! Fui bobo em não fazer o mesmo...”9





Que religião estranha e inútil! Mesmo freqüentando a casa paterna, o filho
mais velho não foi visto aquietando-se e desfrutando da intimidade do pai. Queria mostrar serviço. Queria fazer alguma coisa. E com uma agenda assim, sem horários disponíveis para um relacionamento chegado, não pode apreciar e assimilar as virtudes que emanavam do pai. Não aprendeu a adorar. Sua  religião só conseguiu transformá-lo em escravo e não em filho de Deus. Por conseguinte, a vida espiritual tornou-se muito sem graça.


v   “... sem jamais transgredir uma ordem tua...” = eu não sou um pecador como o caçula.  Que incoerência! Incapaz de perdoar o irmão e de amar ao pai, ainda dava graças a Deus por  não ser como os demais homens (Lucas 18:11). Não sei lhe dizer o que é pior: nossos erros ou nossa incapacidade de percebê-los? O primogênito tinha tanta certeza de sua superioridade que se contentou em comparar o progresso espiritual com o fracasso de outro pecador, esquecendo-se de que o modelo comparativo é o amor incondicional do pai ( I João 4:8).

v   “... e nunca me deste um cabrito sequer para eu alegrar-me com os meus amigos”. = eu sou digno de pelo menos uma bênção. Mendigo espiritual! Não consigo ver uma outra imagem daquela tragicômica situação: mesmo sendo herdeiro de tudo queria apenas uma esmola do pai. “Na sua opinião, era ele quem deveria estar com as vestes festivas, quem deveria usar o anel, calçar as sandálias e ser homenageado com aquele suntuoso banquete. Afinal merecia tudo aquilo. Permanecera na casa do pai. Fora fiel a ele. E agora vinha o filho mais moço e recebia tudo. Tornara-se o centro das atenções”. Atolado em conceitos teológicos errados, o infeliz pecador deixou escapulir outra característica marcante em sua religião: era incapaz de admitir a própria indignidade; daí, julgar-se merecedor de regalias pelos serviços prestados. Esqueceu-se de que um tratamento justo já teria transformado a sua vida em um inferno.

O PAI AMOROSO E O FILHO MAIS VELHO.

“Toda a parábola gira em torno do pai. O pai enxovalhado pelo mais novo, o pai incompreendido pelo mais velho, o pai que abre a sua casa ao desobediente, o pai que suplica ao obediente que se digne nela a entrar. Os dois filhos estão lá para ressaltar os traços do pai”10
As injustas acusações foram tratadas com um espírito de conciliação (Lucas 15:28), um momento oportuno para se oferecer amor incondicional também ao primogênito: “Meu filho...” (Lucas 15:31), não quero tê-lo como meu jornaleiro. Não brigue comigo por causa de um cabrito! Não encontrei nenhum puxão de orelha. Também não foi apedrejado pelo pai. Encontrei, sim, um velho ansioso para que o filho parasse de agir como um empregado assalariado, diminuísse o seu distanciamento afetivo e não perdesse a festa. Mas o primogênito não puxou o pai. Não herdou suas qualidades espirituais. 
Por que as leis genéticas que nos fazem herdar as feições externas de nossos progenitores não atuam no sentido de impregnar em nosso caráter as virtudes paternas? Por que os filhos eram tão diferentes do pai? Lembre-se de que as virtudes espirituais são dons divinos para os que se dispõem a contemplar e adorar o pai. Requer disponibilidade de tempo para apreciar e saturar a mente com tais presentes. Este é um dos pré-requisitos para se herdar as feições internas dos pais. Já disseram com muita propriedade que “os pensamentos repetidos geram os atos; os atos repetidos formam os hábitos que, por sua vez, desencadeiam a formação de um caráter semelhante ao do pai”.
A PARÁBOLA DO PAI AMOROSO NOS DIAS DE HOJE.

Antes de concluir, desafio aos leitores a se encaixarem dentro da parábola. Com quem você se assemelha?
·       Alguns dirão: “Eu pareço com o filho mais moço”.
·       Outros gritarão: “Eu me identifico com o mais velho”.
·       Conheço pais que exclamarão: “Eu tenho um filho pródigo”.
·       Vários membros da igreja que quererão desabafar: “Eu convivo com fariseus legalistas”.

Seja qual for o seu caso, temos muito a aprender com o pai amoroso que sentou à mesa com os pecadores e comeu com eles (Lucas 15:2), que a beira de um poço ofereceu água da vida a samaritana (João 4) e não apedrejou a prostituta de Magdala (João 8:1-11). Ele não se envergonhou de se associar com pessoas indignas como Zaqueu (Lucas 19:1-10).

Para o nosso pai o único pecado imperdoável é o pecado contra o Espírito Santo; para os homens o pecado imperdoável é o fracasso. Orgulhamo-nos da nossa qualidade espiritual. Minutos depois, revelamo-nos intolerantes e impacientes com o erro dos outros e, se se trata de um pecadão público, reavaliamos  periodicamente os transgressores. Crentes com tais traços de caráter funcionam como espantalhos de pecadores, verdadeiras barricadas que dificultam os seres humanos normais de se ambientarem no corpo de Cristo. Percebeu como diferimos de Deus? A cruz do calvário continua atraindo os rejeitados. 

“Um criminoso foi condenado à morte por seu país. Em seu último momento, clamou por misericórdia. Houvesse ele pedido clemência ao povo, e ela lhe teria sido negada. Houvesse pedido ao governo, e não lha teriam concedido. Houvesse pedido às suas vítimas, e elas teriam ficado surdas. Mas não assim com a graça. Ele virou-se para o vulto ensangüentado, pendurado na cruz próxima a dele, e apelou: ‘Jesus lembra-te de mim, quando entrares no teu reino’. E Jesus respondeu-lhe dizendo: ‘Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso’(Lucas 23:42 e 43)”11.

É com esta visão ilimitada da graça divina que lhe convido a meditar numa carta enviada pela seguradora celestial para uma pecadora12:

“Prezada senhora Silva,
Estou escrevendo em resposta ao seu pedido de perdão desta manhã. Sinto informá-la que você atingiu sua cota de pecados. Os registros mostram que, desde que solicitou os nossos serviços, você errou sete vezes na área da ganância, e sua vida de oração está abaixo do padrão, comparada a outras da mesma idade e em iguais circunstâncias.
Ademais, a inspeção revela que sua compreensão doutrinária caiu vinte por cento, e você tem excessivas tendências à bisbilhotice. Por causa de seus pecados, você é uma candidata de alto risco para o céu. Você compreende que a graça tem os seus limites. Jesus envia seu pesar e, respeitosamente, espera que você encontre outra forma de cobertura”.
Nossa estória dos dois filhos pródigos contrasta com a precedente. “A parábola acentua que como filhos pródigos nós merecemos a morte, mas Deus nos deu uma herança de graça que nos permite viver e ter tempo para arrependimento. O pai celestial não deu aos seus pródigos aquilo que eles merecem, mas derramou sobre eles a misericórdia em vez da justiça”13

Não consigo explicar toda matemática da graça, todavia minha compreensão aumentou quando reavaliei o drama da encarnação. “O criador invadiu a sua criação, mas as criaturas recusaram-se a reconhecê-lo. Na verdade, crucificaram a Cristo. O que é que o criador fez então? Transformou a maior crueldade da humanidade na fonte de perdão para os homens! Nós o matamos, mas Deus usou a prova do nosso maior egoísmo como fonte de nosso perdão”14

Deus invadiu o planeta terra com o seu amado e esbanjou amor incondicional pela humanidade indigna. E tal espécie de amor é que deve ser dispensada aos pródigos e fariseus modernos, quer sejam  nossos filhos, quer sejam nossos irmãos de fé.

Desperte, irmão! Deus conta consigo para recepcionar os desgraçados.  E, mesmo que você não queira se misturar com os pródigos, a festa de arromba na corte celestial vai continuar. A cada dia mais pessoas têm caído em si e retornado a casa do pai. E na mente de Deus este é um momento para celebrar. Você tem sido visto nestes banquetes? Quero compartilhar um segredo que aprendi com Philip Yancey: 

“O mundo pode fazer quase tudo tão bem ou melhor do que a igreja. Você não precisa ser cristão para construir casas, alimentar os famintos ou curar os enfermos. Há apenas uma coisa que o mundo não pode fazer. Ele não pode oferecer graça”15

A igreja deve funcionar como um centro distribuidor de amor incondicional, e a igreja sou eu. A notícia ruim é que, às vezes, o estoque é limitado e surge entre o povo de Deus a incompatibilidade de gênios – aqui significando amor condicional – e pais que só “amam” o seu pródigo enquanto está freqüentando a igreja. Atendamos o convite do pai e entremos no clima da festa. Sempre há alegria por um pecador que se arrepende. Abracemos os pródigos, alegremo-nos com os fariseus, ofereçamos a eles a graça, o perdão e o amor incondicional. 
Um lembrete: Não nos esqueçamos de apresentá-los em oração ao pai do céu e permitamos que o Espírito Santo atue dentro do seu cronograma – remédios eficazes na mutação de vidas confusas e caóticas em novas criaturas a imagem e semelhança divina. Diz-nos o Dr. James Kennedy: “Enquanto há vida, há esperança. Abrir mão de um pródigo é abrir mão do poder do evangelho para salvar”16.


BIBLIOGRAFIA
1.     VOLTE PARA CASA, FILHO, décima segunda edição, página27 – Alejandro Bullón Paucar– Casa Publicadora Brasileira, Tatuí-SP, 2001
2.     DEUS: UM AMOR DE PAI, página 30 – Jack Winter – Editora Betânia, Venda Nova-MG,1996.
3.     O DEUS QUE VOCÊ PROCURA, páginas 181 e 182 – Bill Hybels – Editora Vida, São Paulo-SP, 1998.
4.     O IMENSURÁVEL AMOR DE DEUS, páginas 75-82 – Floyd McLung, Jr. – Editora Vida, Flórida-EUA, 1990.
5.     O FILHO PRÓDIGO, página 36 – Georges Chevrot – Quadrante Sociedade de Publicações Culturais, São Paulo-SP, 1988.
6.     AS PARÁBOLAS DE LUCAS, 2a edição, página 229 – Kenneth Bailey – Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo-SP,1989.
7.     DEUS: UM AMOR DE PAI, página 67.
8.     Idem, página 129.
9.     O FILHO PRÓDIGO, página 20.
10.  Idem, página 35.
11.  NAS GARRAS DA GRAÇA, página 48 – Max Lucado – Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Rio de Janeiro-RJ, 1999.
12.  Idem, página 71.
13.  SEU FILHO PRÓDIGO, página 67 – Dr. D. James Kennedy – Editora Vida, Flórida-EUA, 1990.
14.  O IMENSURÁVEL AMOR DE DEUS, página 27.
15.  MARAVILHOSA GRAÇA, página 13 – Philip Yancey – Editora Vida, São Paulo-SP, 1999.
16.  SEU FILHO PRÓDIGO, página 145.


FONTE: http://www.adventistas.com/maio2001/pai_prodigo.htm

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